Uma nova visão para a Educação Superior Jurídica

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Linhas de montagem do ensino jurídico

quinta-feira, 21 de junho de 2012



Vivenciamos uma época em que a dimensão cultural da universidade está em franca diminuição, onde o convívio entre conhecimentos está posto de lado em favor de uma especialização tecnicista extirpante.
A educação, em plena era da produção em massa, das linhas de montagem automatizadas, parece seguir exatamente os mesmos princípios que norteiam essas práticas. Passa-se a informação, as técnicas de aplicação do conhecimento, mas já não se ensina mais a ter independência intelectual. Nas universidades, verdadeiras linhas de montagem, já não se formam pensadores, apenas técnicos, aplicadores de um conhecimento que não são capazes de compreender, muito menos de criticar. São poucos e afortunados aqueles que escapam à regra e conseguem criar conhecimento, criticar positiva ou negativamente as informações de que tomam ciência, tomar parte ativa na construção e melhoria da sociedade.
Houve, com a mercantilização da educação, uma crescente corrida na direção de um ensino mais prático, mais utilitarista, pouco engajado e despreocupado com a formação de cidadãos. Há, na atual conjuntura do ensino, uma preocupação abusiva com a produtividade.
A própria tendência imediatista, reflexo de uma sociedade tecnológica, faz com que o ensino perca em profundidade para ganhar em praticidade. Basta observar um pequeno grupo de adolescentes para notar o quão ansiosos ficam pela demora na assimilação de qualquer conteúdo ou saber. Esse imediatismo, essa busca pela síntese, pelo mais rápido e prático, também acaba por influir na forma como a educação está sendo pensada e tratada. A sociedade neoliberal, focada na questão econômica, acaba por retirar a ideia de cidadania da educação, tornando a universidade um espaço privado e privatizado. O objetivo, agora, é a obtenção de lucro.
Especificamente quanto ao curso de Direito, universo do qual faço parte, onde o saber deveria ser, a princípio, bastante amplo e multidisciplinar, observamos facilmente as funestas consequências das escolhas da humanidade.
O objetivo maior das faculdades de direito no Brasil passou a ser a aprovação de seus alunos no Exame da Ordem, grande chamariz e peça chave na promoção das instituições. Ou seja, valoriza-se a assimilação dogmática ao invés da aprendizagem crítica. Constroem-se fantoches ao invés de moldarem-se cidadãos.

Publicado originalmente como "Universidades: as linhas de montagem da educação" no Jornal A Razão (2011).

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