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O fim da modernidade pela reviravolta de Marx (Hannah Arendt)

domingo, 5 de agosto de 2012


“Em um tom desafiador e paradoxal, (Marx) articulou, portanto, certas proposições-chave, as quais, contendo sua filosofia política, subjazem e transcendem a parte estritamente científica de sua obra (e, como tal, permanecem curiosamente as mesmas durante toda a sua vida...)”. (ARENDT, H. Entre o passado e o futuro, p. 47-48).
3 proposições-chave de Marx por Hannah Arendt – ofim da modernidade: 1 – O trabalho criou o homem (o ser humano é fruto de seu trabalho); 2 – A violência é a parteira de toda velha sociedade prenhe de uma nova (não existe transformação social sem violência – o caráter violento de todo salto histórico – contradiz Kant e seu esclarecimento – rompimento com o idealismo iluminista); 3 – Os filósofos apenas interpretaram o mundo de diferentes maneiras; agora é preciso transformá-lo (introdução da dimensão chamada práxis – existem duas dimensões da realidade, a teórica e a prática – Marx propõe a união desses dois elementos através da dialética – união da teoria e da prática gerando a práxis – transformando-se a realidade, o mundo concreto emanará novas demandas → práxis – Voltar da teoria abstrata para a prática – caminho dialético entre teoria e prática).

Mas...

“O fim de uma tradição não significa necessariamente que os conceitos tradicionais tenham perdido seu poder sobre as mentes dos homens. Pelo contrário, às vezes parece que esse poder das noções e categorias cediças e puídas torna-se mais tirânico à medida em que a tradição perde sua força viva e se distancia a memória de seu início (ARENDT, H. Entre o passado e o futuro, p. 53)”.
Ou seja, o fim de uma tradição gera um certo saudosismo que torna os antigos valores ainda mais presentes.

“Hoje em dia, para a maioria das pessoas, essa cultura assemelha-se a um campo de ruínas que, longe de ser capaz de pretender qualquer autoridade, mal pode infundir-lhe interesse. Este fato pode ser deplorável, mas implícita nele, está a grande oportunidade de olhar sobre o passado com olhos desobstruídos de toda a tradição, com uma visada direta que desapareceu do ler e do ouvir ocidentais desde que a civilização romana submeteu-se à autoridade do pensamento grego” (ARENDT, H. Entre o passado e o futuro, p. 56).
Vivemos uma era de oportunidades. A tradição, iniciada por Platão e que chegou ao ápice com Descartes (modernidade), construiu um edifício altíssimo mas, no entanto, sem janelas. Por mais alto que o prédio fosse, nossa vista estaria sempre bloqueada. Com o fim da tradição, o prédio ruiu. Marx, Freud, Nietzsche e outros decretaram seu fim. A demonstração da impossibilidade de reconhecer naquele ser humano ou naquela política concebida pelos modernos o modelo real de política, o modelo real de ser humano – a constatação da impossibilidade de lidarmos com aqueles valores idealizados – colocou todo o prédio abaixo. Assim, perdemos a sustentação e o abrigo. Embora não estejamos mais sobre o abrigo do edifício, temos, agora, a possibilidade de vislumbrarmos o horizonte longínquo.

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